A personalidade é o que nos distingue de qualquer outra pessoa: é definida pelo conjunto das nossas qualidades única e constantes, dos nossos traços emocionais e de comportamento.
Uma perturbação da personalidade é definida como um padrão duradouro e estável de pensamentos, emoções, relacionamentos e controlo de impulsos que se desviam marcadamente do esperado na cultura da pessoa. Estes padrões são inflexíveis, rígidos e desaptativos numa grande variedade de situações pessoais e sociais. Têm habitualmente início na adolescência ou no início da vida adulta e permanecem para toda a vida se não houver uma intervenção terapêutica. Originam um sofrimento clinicamente significativo, prejudicando a adaptação da pessoa às situações que enfrenta, causando a si próprio, ou nos que lhe estão próximos, sofrimento e incómodo.
Algumas pessoas que sofrem com esta problemática tentam encontrar estratégias para aliviar esse sofrimento psicológico; contudo, muitas vezes essas estratégias não são adaptativas nem funcionais, podendo criar outros problemas. Alguns exemplos dessas estratégias são o consumo de substâncias, excessivo isolamento ou excessiva proximidade, automutilação, rituais compulsivos, formas de comunicação agressivas ou manipuladoras.
Para uma intervenção terapêutica é fundamental uma forte motivação por parte da pessoa que procura apoio. O tratamento psicoterapêutico pretende aumentar o autoconhecimento e a consciência da rigidez dos mecanismos, aumentando a autocrítica, possibilitando uma maior visão de que cada um de nós tem capacidade de analisar as situações de formas diferentes e de controlar os nossos impulsos e aprender a lidar com determinados pensamentos de forma a não gerarem sofrimento. Pretende-se explorar maneiras em que cada pessoa encontre a forma mais saudável para se adaptar à sociedade, diminuindo o sofrimento que é sentido na luta constante para que os outros se adaptem à sua realidade.
Existem várias perturbações da personalidade tais com:
- Perturbação Paranoide
- Perturbação Estado Limite (bordeline)
- Perturbação Evitante
- Perturbação Dependente
- Perturbação Obsessivo-Compulsiva
Perturbação Paranoide da Personalidade
A pessoa com esta perturbação desconfia e suspeita que a enganam, tem relutância em confiar, tendência a encontrar significados ocultos, humilhantes ou ameaçadoras em observações ou comentários inocentes. Pensa que os outros a exploram, prejudicam ou enganam, que conspiram contra ela e que a podem atacar subitamente e sem qualquer razão, não existindo, no entanto, qualquer evidência que apoie esta convicção. Ela preocupa-se com a lealdade e confiança dos seus amigos ou colegas, cujas ações são minuciosamente examinadas em busca de evidências. Qualquer desvio percebido na confiança ou lealdade serve para apoiar as suas suposições básicas.
Esta perturbação tem um impacto significativo na vida da pessoa. Podemos sentir-nos ameaçados, aterrorizados, confusos, frustrados, zangados, isolados, exaustos de estarmos constantemente em alerta. Pode ser difícil manter relações, concentrarmo-nos ou dormir. Podemos ter sintomas físicos de depressão, ansiedade ou ataques de pânico e pode fazer-nos sentir isolados e achar que os outros não nos compreendem nem acreditam em nós.
Perturbação Estado-Limite da Personalidade (Borderline)
A pessoa com esta perturbação apresenta um padrão global de instabilidade no relacionamento interpessoal e nos afetos, e um sentimento crónico de vazio. As relações são habitualmente muito intensas com alternância entre a idealização e a desvalorização. Pode viver episódios de raiva, irritabilidade ou ansiedade que duram poucas horas ou dias e são pessoas extremamente impulsivas, com pouca tolerância à frustração, adotando com frequência comportamentos autolesivos (por exemplo, o abuso de álcool, abuso de drogas, sexo promíscuo, condução arriscada, automutilações e comportamentos suicidas). Faz grandes esforços para evitar o abandono, real ou imaginado. A antecipação da iminência de separação ou rejeição pode levar a profundas alterações na autoimagem, afetos e comportamento. Estes medos de abandono estão associados a uma intolerância à solidão e à necessidade de ter os outros próximos. É frequente que a pessoa com esta perturbação se considere injustamente incompreendida, maltratada ou aborrecida. Essa instabilidade desorganiza, muitas vezes, a vida familiar e profissional.
Perturbação Evitante da Personalidade
A pessoa com esta perturbação apresenta um padrão global de inibição social, sentimentos de inadequação e hipersensibilidade à rejeição, temendo começar relações ou qualquer outra atividade nova pela possibilidade de crítica, rejeição ou de deceção. Estes sintomas estão presente numa variedade de contextos tais como o profissional, o escolar ou o pessoal. Esta pessoa tem um forte desejo de receber afeto e de ser aceite e sofre pela falta de capacidade de se relacionar comodamente com os outros, considerando-se socialmente inapta ou inferior aos outros. A intimidade interpessoal é difícil para esta pessoa, no entanto é capaz de estabelecer relações íntimas quando sente que é aceite sem crítica. Podem surgir sintomas físicos de ansiedade quando é confrontada com as situações desconfortáveis que não lhe é possível evitar.
Perturbação Dependente da Personalidade
A pessoa com esta perturbação apresenta uma necessidade global e excessiva de cuidados, que leva a um comportamento submisso e a uma angústia de separação, estando presente numa variedade de contextos. Inclui dificuldades em tomar decisões sem um excessivo aconselhamento e tranquilização pelos outros, em discordar dos outros por medo de perder suporte ou aprovação, em iniciar projetos ou fazer coisas por sua conta (pela ausência de confiança nas suas capacidades), necessidade de transferir responsabilidade para os outros, sentimento de desconforto e desamparo quando sozinho por medo exagerado de ser incapaz de cuidar de si próprio, ir a extremos para obter carinho e apoio dos outros (a ponto de oferecer-se para fazer coisas desagradáveis), procura urgente de outras relações (em substituição de alguma relação íntima terminada) e preocupações irreais com o medo de ficar entregue a si próprio.
Perturbação Obsessivo-Compulsiva da Personalidade
A pessoa com esta perturbação apresenta um padrão global de cuidados, perfeccionismo, controlo mental e uma marcada inflexibilidade ou rigidez que se apresenta em diversas áreas da sua vida. Inclui preocupações com pormenores, listas, regras, ordem, organização ou esquemas a ponto de se perder a finalidade da atividade. Tem dúvidas excessivas sobre assuntos irrelevantes e o seu desejo de perfecionismo acaba por interferir no cumprimento da tarefa. Esta pessoa não gosta de improvisos e tem propensão para uma devoção excessiva ao trabalho e à produtividade, podendo isolar-se dos amigos e deixar de ter atividades de lazer. Tem relutância em delegar funções ou trabalho nos outros, e apresenta uma rigidez e obstinação, mostrando uma insistência em que os outros procedam exatamente de acordo com a sua maneira de pensar (é-lhe extremamente difícil ver pela perspetiva do outro). Uma outra característica que pode dominar é a hiperconsciencialização da moral, ética ou valores, criando ansiedade sempre que alguma é desrespeitada. O seu lado crítico está muito desenvolvido de forma que qualquer falha que possa cometer relativamente aos seus valores, o leva a sentir-se culpado, procurando a correção meticulosa e rápida da situação.
Pode muitas vezes adotar um estilo de vida miserável, isto porque o dinheiro é visto como algo a ser acumulado para futuras catástrofes. É incapaz de descartar objetos usados ou sem valor, mesmo quando não têm valor sentimental. A sua expressão dos afetos é feita de uma forma controlada e rígida, valorizando a lógica e o intelecto em detrimento da expressão da afetividade, contudo, pode não lhe parecer natural.